Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/110

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te bem dos facinorosos; e por nosso respeito não te percas. A Virgem Maria, na tua ausência há de ser a nossa advogada, há de proteger-nos.

Esta cena de dor foi interrompida pela chegada de um negro que acompanhara João da Cunha às matas e com ele seguira para a prisão no Recife. Vendo-o coberto e suor, e ofegante de cansaço de longa jornada, D. Damiana foi a primeira que lhe falou, não sem grande sobressalto.

— Que novas nos trazes, José?

O escravo fiel e respeitoso, por única resposta, entregou-lhe um papel que ela inquieta e nervosa, desdobrou rapidamente. Era uma carta do seu cunhado Amador Cavalcanti, senhor de engenho, residente em Jaboatão.

Eis o que continha a carta:

"Prezada prima

Escrevo-lhe estas regras quase às escuras, porque estou na semi-tumba das Cinco Pontas, onde me recolheram ontem, por ordem do governador depois de sofrer os maiores vexames da quadrilha do Camarão que me prendeu.

Vim aqui encontrar o meu irmão, o seu marido João da Cunha.

Mal poderá imaginar em que estado o encontrei. Ferido, enfermo, maltratado pelos nossos verdugos... não tenho ânimo para lhe dizer tudo; mas o parentesco e a amizade não permitem furtar-me a este penoso dever.