Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/118

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também quero lhe dizer uma coisa: eu com pouco me satisfaço. Basta que vosmecê consinta que eu me recolha debaixo deste alpendre, ao menos enquanto ponho um punhado de farinha e um pedaço de carne na boca, e o meu cavalo descansa.

A mulher não disse uma palavra; continuou indecisa. Estava sem saber determinar-se.

Passado um momento, como visse Lourenço que não cessava a indecisão, disse o seguinte:

— Minha senhora, eu não sou nenhum malfeitor. Pela cara dou logo a conhecer.

— Não digo menos disso - retorquiu ela.

— Meto-me ali debaixo do puxado, e pode vosmecê ter certeza que não arredarei dali o pé senão para ver o meu cavalo, ou tratar da jornada quando as barras vierem quebrando.

A mulher ia reforçar a recusa com outras razões, mas a um sinal feito do dentro da camarinha pela moça mudou de rumo, e respondeu sem os escrúpulos de há pouco.

— Está bom. No alpendre pode vosmecê ficar.

— Deus é que lha há de pagar este favor, disse o rapaz, criando alma nova com a resposta.

E sem mais esperar, tirou para o pequenino alpendre, onde descavalgou.

Quando estava para soltar o cavalo com a peia, como é costume, ouviu dizer da janela:

— Ó meu senhor? Ó meu senhor?