Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/119

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Pela voz reconheceu a mulher, e imediatamente botou-se para aquele ponto onde a encontrou, tendo numa da mãos uma cuia.

— Se vosmecê não tem o que dar ao seu cavalo, aqui lhe ofereço este bocado de milho que sempre há de chegar para ele ir roendo durante a noite.

— Aceito o favor, e muito agradeço a vosmecê a sua lembrança. Eu já ia soltar o animal aí no campo, sem esperança que ele comesse qualquer coisa, porque está tudo debaixo de água.

Pouco depois, sob a folhagem de uma gameleira próxima do alpendre, o cavalo quebrava com estrépito o presente da hospitalidade, e o seu dono, de uma rede que armara, fazia-lhe companhia, comendo, com apetite devorador, da matalotagem que trazia em um saco de couro, onde a água da chuva não pudera penetrar.

Ali mesmo, rendendo-se do enfado da jornada, Lourenço, recostado na rede, adormeceu. A noite fechada, a chuva, o silêncio, o ermo convidavam ao repouso.

Por volta de oito horas, não obstante estar no melhor do sono, foi despertado pelo ladrar do cachorro da casa contra o cavalo. Logo depois ouviu uma porta, rumor de alguém que saía, e as palavras seguintes:

— Não me demoro, não. Vou levar a Joaninha esta tigela de mucunzá para ela cear, e dizer-lhe que eu venho hoje fazer companhia a você.