Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/150

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deixado o pasto usual, isto é, quando está em quase todo o vigor, e não tem ainda perdido, pelo cansaço, parte das forças ganhas na vida livre do sertão, não fica incólume e ileso o que encontra à sua frente. O chão arrasa-se, porque as moitas desaparecem e os arbustos acamam-se torcidos ou quebrados sob os seus pés. Os espinheiros ficam lisos. Onde não havia nenhuma trilha, nem uma aberta, mostram-se depois entradas novas, que o homem aproveita algumas vezes. As longas cortinas de cipó pendentes das folhagens das grandes árvores, esfrangalhadas, despedaçadas, ou deslocam-se das alturas donde as suas flores namoravam o sol e o azul etéreo, e vêm alcatifar confusas e revolvidas o chão, ou, partidas ao meio, oscilavam dali em retalhos que resistiram à invasão das centenas de cabeças bicornes que, através deste floridos cortinados com que a natureza decora os tetos e as abóbadas dos sombrios paços de espessura, abriram improvisa passagem, no desespero do pânico bruto. Tudo leva de rojo a mole ambulante, na disparada. A tempestade muitas vezes não produz tantos estragos, não muda tão prontamente os aspectos da solidão.

Bernardina cosera-se com o tronco da árvore, para não ficar debaixo dos pés dos bois. Quanto a Lourenço, seus dias pareciam estar contados. O tiro covardemente desfechado, ferira-o gravemente em um dos ombros. O facão fugiu-lhe das mãos, as pernas cambalearam, o sangue envolveu-lhe o corpo em rubra