Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/156

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dois assassinos, mas até o tangedor, companheiro daquele, se sentiram tomados de espanto.

Pedro de Lima não se demorou a responder.

— Eu não o quero mais matar. Ainda quando ele desta se levante, o que eu duvido, não teria eu mais para quem é tão mofino a minha arma, porque o ensino está dado. Só peço a vosmecê que me perdoe.

Tendo disto estas palavras, cortejou o dono da boiada como quem se despedia, e encaminhou-se para o fechado em busca do cavalo. Manoel Hilário, acompanhou-o, silencioso e cabisbaixo.

Um quarto de légua distante do lugar onde se deu este encontro, via-se dentro de um capão de mato que vinha morrer à beira do rio, uma casa de tacaniça, de aspecto quase claustral, que convidava ao repouso. À volta, fora roçado vasto espaço, destinado a pequena lavoura e criação de aves e animais miúdos. Entre a casa e o mato, do lado sul, era um extenso curral de vacas, e ao lado do norte um curral de cabras. Logo à primeira vista, reconhecia-se que naquela situação agreste estava fundada uma fazendola de gado.

O dono desta propriedade era João Mateus, sujeito magro, de cabelos e barbas compridos, que no meio das brenhas onde se concentrara, lugar semi-bárbaro, quase inteiramente inacessível à luz das letras, levava grande parte do tempo a ler seus livros. Tipo misterioso e incompreensível,