Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/197

Wikisource, a biblioteca livre

com grande dificuldade, porque não podia dar um passo sem lhe ser preciso antes abrir caminho através das folhagens e cipós emaranhados, que faziam redes e tapagens de diferentes formas.

Depois de andar um bom pedaço pelo mato a dentro, parou para se orientar. Tinha o espírito confuso. Perdera-se no labirinto e não sabia onde estava. Com o rigoroso inverno, as antigas veredas haviam desaparecido, e em lugar delas, e onde supunha encontrá-las, o que achou foram árvores novas, cujos galhos se entrelaçavam, fazendo com os longos fios e as miúdas folhas dos cipós, largos panos que o seu braço por fim já se sentia cansado de mutilar e romper. A cada passo ouvia o sibilar de cascavéis, ouvia os suspeitos ruídos da massa enorme da selva que não se afronta impunemente.

— Por onde ando eu, meu Deus? disse começando a apoderar-se de inquietação. Estou perdido. Já nada vejo. Escureceu de todo mais cedo do que eu cuidava. Agora não há outro remédio senão ficar aqui mesmo.

Quando estava neste solilóquio, ouviu, não longe o ponto onde parara, rumor de cavalgada e vozes. Deu mais alguns passos para a frente, e pôde reconhecer, por entre as sombras da noite, que estava não no seio da mata, como julgara, mas à beira do cercado do engenho Bujari. Obra de cinqüenta braças na frente dele passava a estrada, e pouco adiante se