Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/266

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obrigações que redundavam em ficarem estes à mercê daqueles. Como não pudessem, por meios lícitos, levar a efeito o seu intento, maquinaram criar a vila onde tinham e onde têm a sua força, e tornar-se, por este modo, árbitros dos preços dos gêneros que haviam de ser forçosamente tachados por almotacés do seu plano; e este diabólico intento estaria de todo realizado, se a nobreza não pusesse para fora o governador que tivera o arrojo de promover a criação da vila maldita. Sabeis, tão bem como eu, o que se seguiu ao ato de energia, que nos livrara de Sebastião de Caldas. Foi no Senado da Câmara de Olinda, reunido para providenciar sobre o governo da capitânia acéfala, foi ali que o amor da pátria, fazendo-nos pulsar os corações, proclamou em nossas consciências a necessidade de tornarmos Pernambuco independente da metrópole, madrasta e não mãe. O amor da pátria, pernambucanos, o amor da pátria é uma paixão grande que se gera, não do ajuntamento de dois seres como geram as criaturas, mas do ajuntamento de milhares de seres, dos ajuntamento dos povos; que nasce, não sob o teto particular, ou em leito clandestino, mas sob o teto público, sob a abóbada livre e ampla dos céus, no largo leito das praças; que nasce, não ocultamente, à luz da candeia noturna, trancadas as portas, mas nas vistas de todos, fora de paredes ou cortinas, alumiados pelo sol do dia; que nasce, não como nascem as crianças que acende,