Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/270

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Falcão calou-se.

O padre Guerra, como se estivesse de inteligência com o chefe da liga respondeu-lhe depois de curta interrupção:

— Não nos pergunteis, Falcão, o que resolvemos; dizei-nos o que tendes resolvido. Vós que haveis sido a nossa coluna neste ermo de amarguras, tendes o direito de indicar-nos a vossa vontade. Por minha parte dir-vos-ei que estarei cegamente pelo que vos parecer melhor. Entendeis que devemos continuar doentes, famintos, rotos e esfarrapados, sem tranqüilidade de espírito nem comodidades físicas, a cada momento julgando-nos descobertos como ainda ontem, enfim com o coração nas mãos e a alma somente entregue a Deus e à aventura? Se é este o vosso parecer, estarei por ele; ficaremos aqui indefinidamente, até que nos mares encapelados da adversidade sobrenade uma tábua de salvação. Entendeis que, tendo em menoscabo todos os sacrifícios porque há dois anos estamos passando, devemos nós, enfim, para o epílogo condigno de tamanha tragédia, deixar o nosso asilo, correr à vila maldita, subir as escadas - escorregadias de vício e devassidão - do palácio das duas torres, e aí batendo com a mão no peito, como penitente em artigo de morte, confessar ao governador culpas que na realidade não temos, e pedir perdão que provavelmente nos será recusado? Se vos parece