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Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/34

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Ocultai-vos com os amigos. Vai partir para aí uma grande força comandada por João da Mota.

Martinho pede-me que vos remeta a carta junta.

+ D. MANUEL A. DA COSTA".

O sargento-mor acabou de ler estas cartas com profunda mágoa. Chamar pela mulher, D. Damiana, e dizer-lhe em poucas palavras o que lera, foi o seu primeiro passo. D. Damiana, posto que moça, era discreta e ajuizada. A estes dotes reunia outro - estimava muito o marido; estimava-o como esposa e como filha. O seu conselho era o da prudência; o seu parecer tinha as principais forças na confiança que inspirava àquele que, podendo ser seu pai e sendo rico, compartira com ela a sorte a fortuna.

— Não vos assusteis - disse o senhor de engenho, disfarçando o seu pesar. O malvado governador jurou acabar com a nobreza de Pernambuco, e vai cumprindo o juramento. Vem aí uma grande força para prender os fidalgos de Goiana. Em Olinda já a maldade não tem em que pôr os dentes e as garras. Os nobres que não caem nas prisões, perdem-se nos matos. D. Manuel manda dizer-me que me oculte. Não há outra esperança de salvação. Lá se foi o tempo em que eu podia castigar tão grandes ousadias. Hoje tudo me falta. A guerra levou-me as economias que eu tinha juntas. Há um ano que meu engenho não mói uma cana,