Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/55

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tudo - negros, curibocas, mestiços, semi-brancos e até brancos.

Formava o todo uma grande mó, em cujo centro se destacavam onze membros da nobreza. No couce da tropa mostravam-se a cavalo os coronéis Manoel Gonçalves Tunda-Cumbe e Sebastião Pinheiro Camarão, chefes do bando. A um lado deles, seguiam-nos o capitão-mor de Iguaraçu, Antônio da Silva Pereira, e o de Tracunhaém João Cavalcanti de Albuquerque, que por ordem do governador auxiliaram com gente sua os dois primeiros na importante busca. O semblante destes caudilhos acusava sinistra vaidade; o daqueles tinha a expressão alvar do delator.

Quando menos esperava, impressão mais violenta deixou o rapaz atônito: descobrira, entre os prisioneiros, João da Cunha. Uma corda ligava-o com outro nobre pelo braço direito. Trazia ele a fisionomia decomposta por aflição íntima, por desgosto mortal, antes vergonha filha do desdouro em que se via posto.

Em toda a sua vida, Lourenço nunca sentia dor tão atroz. Afeito desde menino a ver no sargento-mor representada uma instituição, que ele não sabia explicar, mas que impunha a seu espírito a força de lei fatal e quase divina - a instituição da nobreza, foi com verdadeiro assombro que testemunhou agora aquele claro pulso aviltado pelo instrumento destinado aos réus vulgares, que só despertavam compaixão.