Página:Lourenço - chronica pernambucana (1881).djvu/56

Wikisource, a biblioteca livre

A filosofia da vida, dava pela primeira vez a ler ao bisonho almocreve uma das páginas tristes, que o homem versado em letras encontra aos milhares no imenso livro da história.

Passada esta primeira comoção, uma como revolta interior operou-se de repente em todo o seu ser.

Impulso irresistível atira-o para diante, eletricamente.

Por entre os ramos que o ocultam, a mão direita armada com a faca livre da bainha, mostra-se em atitude de descarregar golpe cruel. Mas a voz da consciência soou mais alto que a da paixão no ânimo do almocreve. Ele tinha diante de si duzentos homens armados.

— Será possível - disse consigo - que eu não possa valer nesta amargura a seu sargento-mor? Desgraçado que sou! Fraco e só, diante de tanta gente forte! Triste foi a hora que fiz esta viagem.

Súbito o assalta um pensamento que ele realiza inconscientemente, mecanicamente. Põe o pé sobre a borda do grande oco, e sobre ao pau. Ganhando posição elevada, atira dentre a folhagem a faca que empalmara quando se lhe deparara a estranha vista. O movimento foi rápido. Como faísca elétrica, a arma, descrevendo uma elipse no vácuo, foi bater contra o alvo. Um grito quebrou a mudez dos bosques: soltara-o Tunda-Cumbe, em cujo braço esquerdo a faca se cravara.