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Página:Luciola.djvu/145

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— Dá-me sua palavra?

— Faço-te um juramento se quiseres.

— Não é preciso: estou satisfeita, e em paga do sacrifício, quero ser generosa.

Deu-me um beijo, um só, e na fronte.

— Então o beijo é permitido? disse eu sorrindo.

— Da minha parte unicamente; da sua, não senhor.

— Por que essa diferença? Deve haver completa igualdade.

— E não há! Se eu fico com o direito de dar, o senhor não tem o de recusar?

— Tu bem sabes que me faltaria a coragem!

— Não é culpa minha!

— E de quem é? De quem te fez tão bonita?

— Já fui! disse ela sorrindo com melancolia.

Realmente Lúcia estava mudada: tinha perdido o esmalte fresco e suave da tez; parecia mesmo desfeita e abatida; porém isso, longe de desmerecer a sua beleza, dava-lhe certa morbidez lânguida que a tornava ainda mais sedutora. Há dois momentos em que a rosa, a flor da beleza, tem para mim um irresistível encanto: é quando desata as mil folhas ostentando o brilho das cores e a régia altivez de sua coroa, e quando desfalece ao beijo ardente do sol, evaporando das pétalas flácidas o pálido matiz e o aroma sutil.

Saí um instante depois do almoço para ir ao escritório da Companhia de Paquetes pagar o frete de umas encomendas que enviava à minha família, e para encarregá-las à solicitude de um empregado do vapor.

Quando voltei, a minha casa de homem solteiro tinha sofrido uma alteração completa. Os vidros que em quinze dias já tinham adquirido uma crosta espessa