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— Não teria a doce ilusão que arrancarias do meu espírito.

— Mas o senhor não sabe então?... perguntou erguendo os grandes olhos límpidos e fulgurantes.

— Sei tudo, mas não o quero saber; e menos de tua boca! Não sou para ti mais do que os outros; não te mereço nada; porém deixa-me a venda sobre os olhos, eu te peço! Sinto-me feliz com ela.

— O que não o impediria de ver-me com indiferença passar dos seus braços aos de qualquer destes homens, daquele velho por exemplo.

— Serias capaz de fazer isso, Lúcia?

— O que tenho eu feito toda a minha vida? Logo ou alguns dias depois... Questão de tempo!

— Não falas seriamente! É impossível!

— Aborreço o fingimento: não gosto de passar pelo que não sou. É tão ridícula essa comédia do amor, que representam os velhos e os meninos!

O escárnio da repetição de palavras, que eu lhe dissera na véspera, esmagou-me.

— Estás tão calada agora, Lúcia! exclamou o Couto.

— Paulo está naturalmente fazendo-lhe a corte! replicou Sá rindo.

— E por isso Lúcifer desapareceu do horizonte!

— Lúcifer espera o reino das trevas! O Sr. Paulo fazendo-me a corte!... Seria soberanamente ridículo para nós ambos!

— É a segunda vez que repetes uma palavra dita por mim num momento de despeito! Se te ofendi, perdoa-me, murmurei à meia voz.

— Gostei da frase!

Estourava o champanha, fumegando nos cálices de cristal. Foi o sinal de um concerto infernal de