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Recolhendo-me no dia seguinte, encontrei Sá que subia as escadas do hotel.

— Que fim levaste anteontem, que ninguém te viu mais?-Voltei para casa.

— Com Lúcia, já se sabe! Ainda estás muito atrasado, Paulo. Tens o amor no meio de uma claridade esplêndida, em volta de uma mesa bem servida, sobre macios tapetes; e preferes o amor bucólico ao relento e sobre a relva!. . .

— Sou extremamente egoísta nesta matéria, meu amigo; só partilho o amor com a mulher que o sente.

— São gostos; mas ficaste sabendo o que é Lúcia, e entretanto ela estava de mau humor. Num dos seus bons dias, não tem que invejar às cortesãs gregas ou as messalinas romanas.

— Ela já contou-me tudo isso, Sá, respondi com impaciência.

— Pudera não! São os seus brasões de glória; e por isso previno-te. É uma mulher que só pode ser apreciada de copo na mão e charuto na boca, depois de ter no estômago dois litros de champanha pelo menos. Nessas ocasiões torna-se sublime! Fora disso é excêntrica, estonteada e insuportável. Ninguém a compreende.

— Eu compreendo-a perfeitamente. É uma moça gasta para os prazeres; ainda jovem no corpo, mas velha n'alma. Quando se atira a esses excessos de depravação, é estimulada pela esperança vã de um gozo que lhe foge; atordoa-se, embriaga-se e esquece um momento; depois vem a reação, o nojo