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Laura! Quer saber tudo? pois eu lhe digo. Fui eu quem lhe mandou ontem esse dinheiro, uma ninharia; e ela veio aqui aborrecer-me e contar as suas desgraças. Está contente ?

— Não; fizeste uma esmola, é generoso; quiseste ocultá-la é modesto; mas esqueceste que eu devia ter a minha parte nessa boa ação; e não te perdôo.

— Assim nunca remiria os meus pecados! E o que eu fiz, não é tal uma boa ação; quando chegar a minha vez de precisar, ela me dará.

— Ainda!.. . Deixarás de pedir-me a mim para pedir a ela?

— Disse-o sem sentir! Não precisarei de nada; de nada senão que me venha ver! Isso, fique certo que lhe pedirei todos os dias.

Tomou-me a cabeça. e reclinando-a sobre o ombro, cobriu-me de carícias.

— Hão de lhe ter dito já que sou muito avarenta. Não lhe enganaram, não! Sou; gosto de esconder assim o meu tesouro; de fazer tinir docemente as minhas moedas; de contá-las uma a uma até perder a soma; de embriagar-me como agora na contemplação de meu ouro, e estremecer só com a idéia de perdê-lo!

Cada uma dessas palavras caía através dos beijos amiudados que me sufocavam.

— Dizem que a avareza é um vicio; mas desse não peço perdão a Deus, que me deu o meu tesouro, mesmo para que o escondesse do mundo, e não expusesse a maus olhados. Portanto fique sabendo, não há de vir à minha casa todos os dias como pensa!

Quis levantar-me despeitado. Ela obrigou-me a sentar; e saltando ligeira sobre os meus joelhos, desfolhou no meu rosto uma risada fresca e argentina.