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JÚPITER (depois de refletir)

Vou ser banqueiro!

(Fazem alas. O Epílogo atravessa do fundo e vem ao proscênio.)

EPÍLOGO

Boa noite. Sou eu, o Epílogo. Mudei O nome. Abri a peça, a peça fecharei. O autor, arrependido, oculto, envergonhado, Manda pedir desculpa ao público ilustrado; E jura, se cair desta vez, nunca mais Meter-se em lutas vãs de numes e mortais. Pede ainda o poeta um reparo. O poeta Não comunga por si na palavra indiscreta De Marte ou de Proteu, de Apolo ou de Cupido. Cada qual fala aqui como um deus demitido; É natural da inveja; e a idéia do autor Não pode conformar-se a tão fundo rancor. Sim, não pode; e, contudo, ama aos deuses, adora Essas lindas ficções do bom tempo de outrora. Inda os crê presidindo aos mistérios sombrios, No recesso e no altar dos bosques e dos rios. Às vezes cuida ver atravessando as salas, A soberana Juno, a valorosa Palas; A crença é que o arrasta, a crença é que o ilude Neste reverdecer da eterna juventude. Se o tempo sepultou Eros, Minerva, e Marte, Uma coisa os revive e os santifica: a arte. Se a história os dispersou, se o Calvário os baniu, A arte, no mesmo amplexo, a todos reuniu.