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Página:Machado de Assis - Teatro.djvu/61

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aproveita usar uma mulher bonita de seus encantos para espreitar um coração de vinte e cinco anos e atraí-lo com as suas cantilenas, sem outro fim mais do que contar adoradores e dar um público testemunho do que pode a sua beleza? Acha que é bonito? Isto não revolta? (Movimento de Carlota).

CARLOTA - Por minha vez pergunto: donde lhe vem o direito de pregar-me sermões de moral?

DOUTOR - Não há direito escrito para isto, é verdade. Mas, eu que já tentei trincar o cacho de uvas pendente, não faço como a raposa da fábula, fico ao pé da parreira para dizer ao outro animal que vier: "Não sejas tolo! não as alcançarás com o teu focinho!" E à parreira impassível: "Seca as tuas uvas ou deixa-as cair; é melhor do que tê-las aí a fazer cobiça às raposas avulsas!" É o direito da desforra!

CARLOTA - Ia-me zangando. Fiz mal. Com o Sr. Doutor é inútil discutir: fala-se pela razão, responde pela parábola.

DOUTOR - A parábola é a razão do evangelho, e o evangelho é o livro que mais tem convencido.

CARLOTA - Por tais disposições vejo que não deixa o posto de sentinela dos corações alheios?

DOUTOR - Avisador