I
MARÁNOS E ELEONOR
Marános era o Sêr que vagueava
Errante pelo mundo; a creatura
Que mais do seu espirito vivia
Que dos fructos da terra...
A noite escura
Em seus olhos se fez; e os povoou
De sombras e de espantos, porque o Espirito
É luz, mas foi a Noite que o criou.
E logo, a sua vida se tornára
Inquieta como o vento e como as ondas;
E mais alta, mais triste e mais sósinha
Do que um êrmo pinheiro alevantado
Na confusão sombria da noitinha...
E partiu pelo mundo; e o acompanhava
Um vulto escuro e palido: era a sombra
Que seu corpo terreno derramava...
Ia tão falto de animo e esperança,
Que apenas o salvou da negra morte
Esta misteriosa sympathia
Que, semelhante á tua lyra, Orfeu,
Sabe encantar a noite e a luz do dia;