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Página:Marános, Teixeira de Pascoaes, 1920.djvu/12

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As nuvens e os rochedos taciturnos
E as estrelas do céu que nos procuram
Com seus olhos de eterna claridade.
Por isso, ele ia andando n'este triste
Enlevo da paisagem, n'este encanto
Que paira sobre as cousas e assemelha
Um murmurio de Deus, divino canto...


No madrugar do outono, quando as nuvens
Aparecem no mundo; no arripio
Anunciador do Inverno, êrmo Phantasma
De cinza, folhas mortas, vento frio,
Chegou, de noite, a um sitio com pinheiros
E luar entre nevoas, situado
N'um alto que domina dois outeiros,
Um rio, um vale e, ao longe, uma montanha...
E ali parou Marános pensativo...
E um silencio de lagrimas descia
Sobre o seu coração aflicto e mudo,
Que uma aragem de medo arrefecia,
Quando viu, muito perto, um Vulto branco
Desenhar-se na sombra do arvoredo,
Em diluidas fórmas e apagados
Contornos de esplendor e de segredo...
E Marános, confuso, olhava, olhava,
Aquela Aparição que deante d'ele,
Em brumas e silencios ocultava
Sua expressão perfeita e definida.


A Lua, que era nova e ia espargindo
Um luminoso e vago encantamento

Nas êrmas cousas pálidas, sorrindo,