Tórna-se a noite clara, quando a vê...
E logo, assim falou para a Saudade:
«Quando a primeira vez eu te encontrei,
Bem longe ainda eras tu da claridade
Que envolve e transfigura a tua face...
Eras Menina e Flôr, de natureza
Fragil e dolorosa, bem distante
De mim; oh, bem distante da Beleza
Na viçosa e perpetua Primavera.
Mas a Dôr sublimou-te, e ergueu teu sêr
Á altura espiritual em que hoje vives.
A condição que tinhas de mulher,
Divinisou-se; és Deusa e eu te bemdigo...
«Por ti, o sol regressa ao berço de oiro;
Por ti, volta a ser agua murmurosa
Agua que um raio a arder evaporou...
Por ti, se faz botão a murcha rosa;
Por ti, o grande roble secular
Volta á semente humilde e pequenina;
Por ti, a luz do sol se faz luar
E o nosso olhar, caindo, se faz lagrima...
Por ti, os passarinhos batem a aza
Em busca do seu par e do seu ninho!
E ao teu sôpro de zephyro se abrasa
Tudo o que a morte apaga: estrela ou flôr.
Por ti, a alma remota da Paisagem
Se aproxima de nós, á luz da lua;
Por ti, a fonte seca da estiagem,
Evoca a nevoa escura, e logo canta!