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Um Ser mais belo e nobre do que tu!
És a Figura humana, heroica e doce,
Das paginas d'um livro alevantada,
Mais viva, mais perfeita que se fosse
Concebida n'um ventre de Mulher!»


E eis que diz a Saudade: «É com tristeza
Que vos vejo sofrer, embora eu saiba
Que não sois da sagrada redondeza
De terras, onde vi a luz do dia.
Pareceis estrangeiro ... pela fala...
Mas eu conheço apenas a paisagem
Onde meu sêr chimerico se exhala
Das almas e das árvores, de tudo!...
Pois ninguem como eu tenho, ainda teve
O amor dos pinheiraes, dos sítios êrmos
E dos sêrros tão altos, onde a neve
Sorri perpetuamente á luz do Sol!
Meu coração, em extase, estremece
Ante a mysteriosa simpatia
D'essa vossa figura que parece
Esculpida n'um mármore de sombra.


«Haverá do teu sangue em minhas veias?
E as lagrimas saudosas que procuram
Em meu olhar o dia que as fecunda,
Por acaso, scintilam e murmuram
Na tua face triste, embora calma,
Que eu avisto tão palida e remota,
Como a longinqua imagem da minh'alma?...
Mas não ... a simpatia que vos tenho

Nasce apenas do vosso sofrimento...