Criar em tua dôr o que é perfeito!
Como géras a Vida, se és a Morte?
«E este meu coração que tanta pena
Me faz, sofrendo e amando noite e dia!
E nem dorme um instante nem descança,
Por um instante apenas de alegria,
Na escuridão, a sós, ele trabalha,
Tão afastado e perto d'este mundo,
Que uma lagrima, caindo, logo o orvalha,
E o alumia a estrela mais longinqua!
Bem o sinto bater em alvoroço,
Todo embebido em intimas ternuras!
E tentar o seu vôo, erguer as azas,
Subir, subir ás mysticas Alturas!...»
E o palido silencio lhe fechou
Os labios, com seus dedos de penumbra.
E, mais curvado, a andar continuou,
Como sentindo o pêso da emoção,
Quando uma voz lhe disse:
«Ao pé de ti,
Eis-me outra vez; andei, e vim parar
A este formoso vale, onde te vi
Do alto d'aquele outeiro que desceste.
Por ti, deixei, nos montes, meu rebanho;
E lá deixei tambem o meu socego,
Pois não me sáe dos olhos teu estranho
Aspecto que me encanta e me domina!
Não te posso esquecer; tua figura,