«O seu desinteresse está sobejamente provado e a sua dedicação é indiscutivel, pois que não só me sacrificou as suas economias de alguns anos de trabalho, que, parecendo suave, é violentissimo, como a sua carreira e a sua propria liberdade. Não foi êle que esqueceu a sua posição, fui eu que a esqueci. Ele foi sempre muito respeitador, e a afeição especial que por mim tinha, nascia apenas da gratidão pelo modo carinhoso como eu o tratava e a que êle não estava habituado. Porque meu pai educou-nos na doutrina de que devemos especialmente ser atenciosos para com os humildes, porque os que o não são, tem o seu dinheiro ou a sua posição social que lhes proporciona considerações. Por isso sempre tratei o melhor possivel os que, pela sua condição, julgava inferiores a mim.»
Não conheço o Manuel, o chauffeur, que só pela sua profissão causa repulsa a um distinto clinico que se sente receoso de ser atacado de fobia contra os chauffeurs. Mas diz o sur. Dr. Bernardo Lucas no seu prefacio do «Doida Não!» «É um rapaz de presença insinuante e simpatica que se exprimia por forma que me agradou.»
E a uma pessoa idosa, de posição modesta e de opinião insuspeita que o viu uma vez, ouvi esta declaração:
«É um rapaz muito agradavel de aspéto e de maneiras delicadas. Não sei que tem, que a gente à primeira vista fica logo a gostar de seu porte e da sua conversa.»
É decerto este não sei que tem, e que impressionou uma pessoa delicada no seu sentir, embora modesta de posição, que é a pedra de toque da paixão em questão. Esse não sei que tem, deve corresponder ao dom das creaturas que teem en si dons atraentes, que tanto podem ser o condão da eloquencia magnetisadora de um Emilio Castelar, a fluidica fascinação de um Musset, emfim o predominio daqueles a quem o destino deu ensejo de expandir-se, ou