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Página:Maria Feio - Doida Não (1920).pdf/76

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Para a Senhora D. Maria Adelaide
meditar
 

 

Antes que a pena fixasse no papel as considerações que venho expôr-lhe, meditou-as profundamente o coração que ao pensamento as inspirára.

Rodeava-me uma solenidade augusta, nessa hora de meditação.

Um patético luar « Clair de Lune », como o que inspirou o imortal Beethoven, inundava de poesia e de sonho a janela do meu quarto solitário virado ás brisas do mar.

A ode eterna da lua, desprendia sôbre a terra a luz velada do seu mistério que põe nos lábios murmúrios de unção, e curva a alma em geneflexão ideal, enternecendo e inspirando. Foi nessa hora de silêncio e de recolhimento, que invoquei o seu olhar profundo, maguado e dôce, para penetrar no intimo da alma apartada do redemoinho do mundo prevertido de indignas cubiças. E visionei um rosario de lágrimas caindo dêsses ollos maguados e tristes.

Porque choravam os dôces olhos? Porque a alma padecia escrava de si mesma. Mortificava-a uma luta de sentimentos desencontrados. De um lado, a paixão que domina, atrae e quebranta. Do outro lado o apartamento, a saúdade, o amôr de mãe a impelir o coração até junto do filho nunca esquecido e sempre amado. E o coração, de outro amôr possuido mas não rendido, debate-se na ância dos escravisados. Cabem-lhe la dentro mananciais de afectos. Quiz