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O Tio Vicente




Á porta dum carvoeiro que havia na rua do Norte estava quasi sempre um grande e bonito côrvo com um vistoso laço de fita ao pescoço. Os rapazes da vizinhança chamavam-lhe O Tio Vicente e afirmavam que êle tinha mais razão para habitar no Limoeiro, por gatuno, do que muitos dos infelizes que lá estão.

O Tio Vicente entrava em todas as lojas, conhecia todos, a todos festejava e todos o estimavam; mas ninguem podia resistir a chamar-lhe ladrão!

Berta, a engraçada filha do tendeiro que defrontava a carvoaria, era muito amiga do Tio Vicente e não levava á paciência que dessem tão feio nome ao seu amiguinho.

Assim que abria a janela, pela manhã, êle saltava logo para o parapeito, afagava-a com o bico e festejava-a por mil modos, até que a pequerrucha ia buscar um bocadinho de carne, que guardava do seu jantar, e lho dava, dizendo:

— Aí tens o teu rebuçado.