Página:Maria O'Neill - Horas de Folga.pdf/66

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temporal. Agora já não respira. Isto vae ser a nossa fortuna, mulher. Não tornaremos a ser pobres. Com o dinheiro que isto nos vai render, Maria, faço-te a vontade: ponho uma tenda e não me meterei mais em negócios, nem tornarei a embarcar.

- O quê? que me dizes tu? exclamou a mulher juntando as mãos num gesto de suprema satisfação.

-O que ouves: este animal vai ser a nossa fortuna.

-¿Então não é um navio? perguntou a filha.

- Não, minha tontinha, é uma baleia.

-¿E' possivel que haja um peixe tão grande?!

- E' um mamífero marinho e não um peixe.

- Que enormidade! exclamou a mulher.

- Ainda as ha maiores do que esta. Algumas têem perto de vinte e cinco metros de comprimento.

Mas que cabeça!

- E que dentes tão feios!

- Aquilo não são dentes, respondeu Tomé.

- Então que são? perguntou a mulher.

- São barbas. Formam uma espécie de rêde fina por onde se escôa a água depois de terem fechado a enorme bôca para engulirem uma porção de peixes.

- Vivos!

- Vivos, sim.

- Ai! que horror, meu paizinho! ainda bem que não sou peixe.

- Que corpo!

- Parece um enorme fuso.