— Já te disse que me desses um copo de agua-ardente, repetiu elle batendo com o punho no balcão.
— E eu já te disse que o pagasses primeiro, disse Anzani, quando não, não a bebes.
O indio deitou um olhar colerico a Anzani, mas o olhar d’este encontrou o seu, — o relampago havia encontrado o relampago.
Anzani dizia muitas vezes:
— A unica força que existe é a moral. Olhae fixa e obstinadamente o homem que vos encarar, se elle abaixar os olhos, estaes senhor d’elle, mas se pelo contrario sois vós que os abaixaes estaes perdido.
O olhar de Anzani tinha um irresistivel poder. Foi o indio que foi vencido, e conhecendo a sua inferioridade, e furioso d’este poder desconhecido, quiz ganhar animo bebendo.
— Está bem, disse elle, ahi tens meia piastra, da-me de beber.
— É obrigação minha servir quem me paga, disse tranquilamente Anzani.
E deu ao indio um copo de agua-ardente.
O indio bebeu.
— Outro, disse elle.
Anzani deu-lhe outro copo.
O indio bebeu-o como o primeiro.
— Ainda outro, disse elle.
Em quanto Anzani teve dinheiro suficiente para se pagar da despeza do indio, não lhe fez nenhuma observação, mas quando o bebedor já não tinha dinheiro para pagar, cessou de encher-lhe o copo.
— Então? perguntou o selvagem.
Anzani fez-lhe a sua conta.
— Depois? insistiu o selvagem.
— Depois?... Como não tem dinheiro, não bebe mais agua-ardente, respondeu Anzani.
O indio tinha formado bem o seu calculo. Os cinco ou seis copos de agua-ardente que havia bebido,