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tinham-lhe dado a coragem que havia perdido com o olhar de Anzani.

— Agua-ardente, disse elle levando a mão a uma das pistollas, agua-ardente, ou morres.

Anzani que já previa o final d’esta scena, estava preparado. Tinha cinco pés e nove pollegadas, e era dotado de uma força e agilidade pasmosa. Apoiou a mão no balcão e saltando para o outro lado deixou-se cair sobre o indio, agarrando-lhe o punho direito.

O selvagem não poude aguentar o choque e caiu; Anzani não o largou e poz-lhe o pé no peito.

Então agarrando com a mão esquerda a mão direita do indio, tornando-lhe por isso inoffensiva a arma, Anzani tirou-lhe do cinto as pistollas e punhal, que espalhou pelo armazem, e arrancando-lhe a pistolla da mão, quebrou-lhe o cano na cabeça e na cara, e julgando que o selvagem já se achava bem castigado foi empurrando-o aos pontapés até á porta deitando-o no meio de um grande lamaçal.

O indio levantou-se com muita difficuldade e fugiu, mas em tal estado que nunca mais tornou a apparecer em S. Gabriel.

Anzani havia feito debaixo do nome de Ferrari a guerra de Portugal. Com este nome tinha-se conduzido admiravelmente, ganho a patente de capitão e recebido duas graves feridas: uma na testa, outra no peito, e tão graves que no fim de dezeseis annos morreu por causa d’ellas.

A ferida da cabeça era um golpe de sabre que lhe tinha aberto o craneo.

A do peito foi uma balla que lhe tinha ficado no pulmão, e de que mais tarde lhe nasceu uma phtisica pulmonar.

Quando se lhe fallava dos prodigios de coragem que tinha praticado debaixo do nome de Ferrari, sorria-se e dizia que elle e Ferrari eram dois entes differentes.

Infelizmente não podia, ao mesmo tempo que