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guerreira em que Rosas tomou parte durante toda a sua vida politica.

Foi então que Rivadavia, já mui conhecido, foi nomeado ministro do reino, tomando a direcção de todos os negocios.

Rivadavia era um d’esses homens de genio, como apparecem no meio das revoluções durante os dias de tormenta. Havia viajado muito na Europa, possuindo uma instrucção universal, e parecendo animado do mais ardente e puro patriotismo. Infelizmente a vista da civilisação europea, que tinha estudado em Paris e Londres havia-lhe feito nascer falsas idéas da sua applicação a um povo que não tendo por detraz de si dez seculos de luctas sociaes, não as podia admittir.

Rivadavia queria dobrar a marcha do tempo e fazer o mesmo pela America que Pedro o Grande havia feito pela Russia; mas não tendo á sua disposição os meios de Pedro foi obrigado a desistir das suas intenções.

Póde ser que com mais alguma esperteza Rivadavia as tivesse alcançado, mas censurava os homens pelos seus habitos e certos habitos são uma nacionalidade e outros um orgulho. Escarnecia os trajes americanos, manifestando a sua repugnancia pela jaqueta, o seu desprezo pela chiripa, o vestuario do homem dos campos, e como ao mesmo tempo não occultava a sua preferencia pela casaca e bota de polimento, despopularisou-se pouco a pouco, e sentiu o poder prestes a escapar-lhe.

E não obstante que de beneficios não fez ao seu paiz em troca d’esses vestidos ridiculos que lhe queria tirar? A sua administração foi a mais prospera que Buenos-Ayres teve. Foi elle que fundou a universidade, os liceos, e que introduziu nas escolas o ensino mutuo. Durante a sua administração, muitos sabios foram chamados da Europa, as artes foram protegidas, desenvolvendo-se muito, emfim Buenos-Ayres era chamada a Athenas da America do Sul.