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Os elegantes de Buenos-Ayres tinham n’esta época o habito de trazer os bigodes de modo que pareciam formar um U, e isto era sufficiente para a sociedade dos MAS-FORCA, debaixo do pretexto de que o U queria dizer unitario, se apoderar do desgraçado, rapando-lhe a cara com navalhas mal afiadas, de modo que a carne vinha juntamente aos pedaços com os cabellos. Depois de praticarem esta barbaridade, abandonavam a victima aos caprichos da populaça, que muitas vezes continuava esta brincadeira até dar a morte áquelle desgraçado.

As mulheres do povo começavam a usar nos cabellos a fita encarnada chamada mono. Um dia a Mas-forca collocada ás portas das principaes egrejas, marcou com um ferro em brasa todas as mulheres que entravam ou sahiam sem ter a tal fita.

Tambem não era uma cousa extraordinaria o ver uma mulher despojada dos seus vestidos e açoitada no meio da rua, e isto porque ella trazia um lenço, um vestido um enfeite qualquer, no qual havia a cor azul ou verde. O mesmo succedia com os homens da mais elevada posição, sendo apenas necessario para elles correrem os maiores perigos que se apresentassem em publico de casaca ou com uma gravata.

Ao mesmo tempo que as pessoas, sem duvida designadas á muito, e que pertenciam ás classes superiores da sociedade perseguidas por uma cruel vingança, eram victimas d’estas violencias, centenas de cidadãos eram encarcerados, e isso só porque as suas opiniões não estavam em harmonia com as do dictador. Ninguem conhecia o crime porque era preso, mas isso tambem era desnecessario, visto ser conhecido de Rosas. Do mesmo modo que o crime ficava desconhecido, tambem o julgamento era considerado inutil, e todos os dias as prisões para poderem dar entrada a novas victimas, eram despojadas de algumas d’ellas que erão fuziladas. Estes fuzilamentos tinham logar de noute, sendo a cidade constantemente accordada de sobresalto.