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O principe de Carignan retirou-se para Florença para o lado do grão duque de Toscana.

Para Carlos Alberto não se tratava unicamente de um simples exilio, ou d’um desvalimento momentaneo, mas sim da perda do throno do Piemonte. Espalhou-se então que Carlos Felix legava a corôa ao duque de Modena, e este que não a havia alcançado na conspiração dos principes italianos contra a Austria, esperava esta vez realisar a sua ardente ambição.

O principe de Carignan disse ao conde de la Maison-Fort, nosso ministro em Florença, qual era a sua posição, e este escreveu a Luiz XVIII relatando-lhe tudo.

Eis um fragmento da carta d’este ministro:

«Para despojar o principe de Carignan da sua herança é necessario chamar ao throno a duqueza de Modena, filha mais velha do rei Victor Manuel. Esta facilidade em affastar a nobre casa da Saboia de um throno por ella creado, esta ingratidão, exemplo do seculo em que vivemos, não póde ser partilhada pelo chefe de uma casa alliada com a Saboia dezoito vezes. A França pois não póde seguir esta politica, porque tem ao menos o direito de exigir a completa independencia do soberano que possue a chave da Italia.»

Luiz XVIII foi de opinião do seu ministro, e escreveu ao principe offerecendo-lhe um refugio na côrte de França. A conducta de Luiz XVIII era o mesmo que dizer — Não tem cousa alguma a receiar, tomo-o debaixo da minha protecção e não consentirei que outro seja rei do Piemonte.

E na verdade um rei que havia dado a carta ao seu povo, não podia criminar um principe por ter promettido uma constituição que não havia reconhecido.

Das tres constituições creadas pelos carbonarios, uma, a do Piemonte tinha sido logo anniquilada pelo rei Carlos Felix; a de Napoles havia sido destruida pela invasão austriaca, e a terceira,