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Uma palavra minha dava força aos feridos, coragem aos hesitantes, e redobrava o ardor dos fortes.

Quando vi o inimigo dizimado pelo nosso fogo, cançado da nossa resistencia, então sómente fallei de retirada, dizendo apenas: Retiremo-nos! mas:

— Retirando-nos não deixaremos um só ferido no campo de batalha.

— Não! não! gritaram todas as vozes.

Feridos eramos nós quasi todos.

Quando vi todos silenciosos e firmes, dei tranquillamente ordem de retirar combatendo.

Por felicidade não tinha uma beliscadura, o que me permittia de estar em toda a parte, e quando um inimigo se aproximava de nós temerariamente fazia-o arrepender da sua temeridade.

Os poucos homens sãos que havia entre nós cantavam hymnos patrioticos aos quaes os feridos respondiam em côro.

O inimigo nada d’isto comprehendia. O que nós mais soffriamos era falta de agua.

Uns arrancavam raizes e mastigavam-n’as; outros sugavam nas ballas; alguns beberam a propria ourina.

Emfim veiu a noite e com ella algum frescor.

Serrei os meus homens em columna, e colloquei os feridos no meio.

Sómente dois que era impossivel transportar deixei no campo de batalha. Recommendei muito á minha gente de não se dispersar, e de retirar na direcção de um pequeno bosque.

O inimigo tinha-se apoderado d’elle antes de nós, mas foi repellido d’ahi vigorosamente.

Enviei então exploradores, que voltaram a dizer-me que o inimigo tinha quasi toda a sua gente em terra, e os cavallos andavam pastando. Sem duvida havia-se elle persuadido que a causa da nossa paragem era a fome e falta de munições; mas fome não a sentiamos; quanto a munições, tinhamos encontrado nos nossos adversarios mortos o que nos faltava.