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Foi lá que soubemos pelo vice-consul sardo parte dos successos que se passavam na Italia.

Soubemos que a constituição piemonteza tinha sido proclamada e que os cinco gloriosos de Milão se tinham passado, cousas que não podiamos saber á nossa sahida de Montevideo, isto é a 27 de março de 1848.

Disse-nos o vice-consul que vira passar navios italianos com bandeira tricolor. Não era preciso mas para me decidir a arvorar o estandarte da independencia. Arriei o pavilhão de Montevideo sob o qual navegavamos, icei immediatamente na verga do navio a bandeira sarda, improvisada com metade de um lençol, um casaco vermelho e o resto dos ornatos verdes do nosso uniforme de bordo.

Recordam-se que o nosso uniforme era a blouse vermelha adornada de verde com debruns brancos.

A 24 de junho, dia de S. João, chegámos á vista de Nice. Muitos entendiam que não deviamos desembarcar sem mais amplas informações.

Arriscava-me a muito, pois estava ainda condemnado á morte.

Todavia não hesitei, ou antes não teria hesitado, porque reconhecido pelos tripulantes de um navio, o meu nome espalhar-se-hia bem depressa, e apenas meu nome estivesse espalhado, Nice em peso correria para o porto, e seria preciso no meio das acclamações, acceitar as festas que nos eram offerecidas de todos os lados. Mal se soubesse que eu estava em Nice, e que tinha atravessado o Occeano para vir em auxilio da liberdade italiana, os voluntarios correriam de todos os lados. Mas n’esse momento eu tinha melhores projectos.

Da mesma fórma que acreditara no papa Pio IX, cria no rei Carlos Alberto; em vez de nos preoccupar de Medici que tinha expedido como disse a Via Reggio para ahi organisar a insurreição, encontrando a insurreição organisada e o rei do Piemonte á sua frente, julguei que o que tinha de melhor