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Por esta occasião é que se deu o facto memoravel que vamos relatar.

Um official que se assentava como juiz no conselho de investigação fez algumas perguntas sobre principios de direito criminal a um jurisconsulto. Este respondeu-lhe que a primeira base de toda e qualquer lei, que a primeira regra de todo o codigo era:

«Que um conselho de investigação militar se devia declarar incompetente para julgar cidadãos.»

— Isso é impossivel, disse o official, porque o general ordenou que nos declarassemos competentes.

D’esta vez a base da lei, a regra do codigo foi a ordem do general.

O primeiro que manchou com o seu sangue o manto do novo rei, foi o cabo Tamburelli, que foi fuzilado pelas costas, por haver commettido o crime de lêr aos seus soldados a Joven Italia. O segundo foi o tenente Tolla culpado por ter tido em seu poder livros sediciosos, e conhecendo o author não o haver denunciado. Como Tamburelli foi fuzilado pelas costas. Era uma engenhosa invenção da magistratura piemonteza para assemelhar o supplicio do fuzilado ao da forca.

Já não era sufficiente matar, era preciso tambem deshonrar. A de 15 de Junho foram tão bem fuzillados pelas costas o sargento Miglio, José Deglia e Antonio Gaortti.

Todos morreram com uma coragem admiravel.

Jacopo Rufini estava encerrado nas prisões da torre de Genova. Tentavam tirar-lhe as forças por todos os meios possiveis: falto de comida e de somno, sentia que se enfraquecia, não só physicamente, mas moralmente, por isso resolveu não esperar que o collocassem entre a morte e a vergonha, e receiando que chegado esse momento não tivesse forças para escapar á morte, arrancou uma lança de ferro da porta da prisão, afiou-a e degolou-se com ella.