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Nas agonias da morte teve forças sufficientes para escrever na muralha com letras de sangue:

«Lego á Italia a minha vingança.»

Quando no dia seguinte entraram na prisão acharam-n’o morto.

Em Genova foram fuzilados Luciano Placenzo e Luiz Turfo.

Em Alexandria Domingos Ferrari, José Menardi, José Rigano, Assani Costa, Giovanni Marini e depois Andrea Vochieri.

Escreveremos algumas linhas sobre Andrea Vochieri, assim como fizemos de Jacopo Rufini.

Um condemnado d’Alexandria que escapou ás torturas de Fenestrelle, deixou nas suas memorias a narração da agonia de Andrea Vochieri:

«Tiraram-me, diz elle, fallando de si, os meus livros que se compunham de uma Biblia, de um livro de orações e de uma Historia dos Capuchos illustres do Piemonte. Depois pozeram-me ferros aos pés e conduziram-me a outra prisão mais humida mais escura e mais sordida que primeira. As janellas tinham duas ordens de grades e as portas cadêas dobradas. Esta prisão era proxima da do pobre Vochieri. Alguns buracos na parede permittiam-me ver tudo quanto ali se passava.

«Estava deitado em um miseravel banco com ferros aos pés, dois guardas collocados ao lado com a espada núa, e uma sentinella armada com uma espingarda se achava á porta. Reinava n’este medonho carcere um silencio sepulchral e os soldados pareciam mais consternados do que o proprio prisioneiro. Dois frades capuchos vinham com curtos intervallos vel-o e exhortal-o.

«Apesar da grande dôr que sentia em vêr aquelle martyr em similhante estado não podia deixar de o contemplar a todos os momentos. No fim de oito dias vieram buscal-o para o conduzir á morte.»

O que este prisioneiro não relata porque não o sabia, é que Vochieri foi levado ao supplicio pelo caminho mais longo, sendo obrigado a passar por