Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/261

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ás duas horas da tarde, foi votado o seguinte decreto com os applausos de toda a Roma.

“Em nome de Deus e do povo,

“A assembléa, segundo a communicação recebida pelo triumvirato, entrega-lhe a honra da republica e encarrega-o de repellir a força com a força.”


Decretada a resistencia, Cernuschi, que tinha feito as barricadas de Milão, foi nomeado inspector das barricadas de Roma: os pontos elevados foram guarnecidos de boccas de fogo, e o povo agitou-se, arquejando, á espera de algum acontecimento importante.

Foi então que appareceu o homem providencial.

De repente um grito unanime se ouviu nas ruas de Roma:

— Garibaldi! Garibaldi!

Depois uma immensa multidão que o precedia, atirava com os chapeus ao ar, e agitava os lenços, gritando:

— Eil-o! eil-o!

Seria impossivel descrever o enthusiasmo que se apoderou da população logo que o viu; dir-se-ia que era o deus salvador da republica que corria a defender Roma; a coragem do povo cresceu então pela confiança que n’elle tinha, e pareceu que a assembléa não só tinha decretado a defeza mas até a victoria.

Algumas linhas da Historia da revolução romana, por Biagio Miraglia darão uma idéa d’este enthusiasmo:

“Este vencedor mysterioso, circundado de uma aureola de gloria tão brilhante, que, estranho ás discussões da assembléa, e ignorando-as, entrava em Roma na vespera mesmo do dia em que a republica ia ser atacada, era, no espirito do povo romano, o unico homem capaz de sustentar o decreto de resistencia.

“Por isso, immediatamente se reuniram ao homem que personificava as necessidades instantaneas e que era a esperança de todos.”