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N’esse tempo era eu capitão do 23.º de linha no exercito piemontez e estava em Ascoli gosando dois mezes de licença quando os meus compatriotas me elegeram deputado na constituinte romana.

Garibaldi visitou-me no dia 20 de janeiro, no dia seguinte quiz partir para Rieti atravessando a montanha que estava coberta de neve e onde havia um grande numero de salteadores; os conselhos prudentes que lhe deram, a opposição dos patriotas não fizeram mais que reascitar o seu desejo de intrepido militar; por espaço de uma legua fomos acompanhados pela multidão que se lamentava e chorava: muitos me abraçaram pensando que não tornariam a vêr-me.

Seguiam o general, Nino Bixio seu oficial de ordenança, o capitão Sacchi seu companheiro de armas no novo mundo, e de Aguyar seu negro.

O resto da comitiva compunha-se de mim e de um cãosinho que ferido n’um pé no dia do combate de Santo Antonio tinha desertado da bandeira de Buenos-Ayres com a qual tinha andado até ali para se alistar na bandeira de Garibaldi.

Chamava-se Guerillo.

O intelligente animal caminhava coxeando sempre entre as quatro pernas do cavallo de Garibaldi.

Na primeira noite alojamo-nos em casa do governador de Arguata, Caetano Rinaldi, chefe da reacção clerical que surgia atraz de nós a pouco e pouco e á medida que avançavamos.

Ficámos n’uma sala ao rez-de-chaussée ás escuras até ás dez horas da noite com pessoas que entravam, sahiam e fallavam em segredo. Notei isto ao general que me respondeu com o seu habitual socego.

— Estão detalhando o jantar.

Nada podia dizer mais verdadeiro, levantamo-nos da mesa á meia noite tendo sido tratados como se fossemos cardeaes. Quando partimos o governador deu-nos quatro arrateis de batatas para a viagem. Ás quatro horas da manhã montámos a cavallo e fomos