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o seu convento, e de novo o encontraram fechado. Foi preciso recorrer novamente aos sapadores para arrombar as portas a golpes de machado.

Os irmãos d’esta vez haviam fugido. Não tinham podido crer que os republicanos fossem tão pouco rancorosos, e temeram que a doçura que tinhamos mostrado não fosse um laço que occultasse alguma sinistra volta.

Tambem, fugindo os irmãos haviam levado comsigo as chaves das cellas. Para obter roupas e objectos necessarios a um acampamento, por muito modesto que elle fosse, foi mister forçar algumas portas. Por felicidade os sapadores não estavam longe. Estas portas arrombadas, foi contagioso o exemplo; em vez de se contentarem, como da primeira vez com o chão dos corredores, os soldados quizeram ter, uns colxões, outros enxergões; os chefes, cançados de moralisar, seguiram o mau exemplo e apoderaram-se das cellas. Em menos de meia hora, foi cheio de alto a baixo; apenas houve tempo de collocar sentinellas á egreja; aos carneiros e á bibliotheca.

De resto, nada havia a tomar; os irmãos não tinham deixado senão grandes moveis, dos quaes nenhum cabia n’um saco; mas bom numero de paisanos que haviam excitado os nossos soldados a esta desordem, aproveitavam a confusão, e, como formigas, se juntavam aos tres e aos quatro afim de levarem os bocados com que um só não podia.

Muitos dos nossos, pouco religiosos, corriam por todo o convento felizes por uma vez se poderem assimilhar-se aos monges. Um sahia de uma cella com um largo chapeu dominicano na cabeça, outro passeava gravemente nos corredores com um grande habito branco sobre o uniforme. Todos appareceram á chamada com uma enorme tocha na mão, e durante a noite de 9 a 10, em honra da nossa victoria sobre os napolitanos, o convento foi explendidamente illuminado.

A correspondencia dos pobres irmãos não foi