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batalha que devia tão rude emprego á sua doce piedade.

Para os nossos feridos Ugo Bassi, joven, bello, eloquente, era verdadeiramente o anjo da morte.

Tinha ao mesmo tempo a alegria de uma creança, a fé d’um martyr, a sciencia de um sabio, a coragem de um heroe.

Nascera em Cento, de pae Bolonez, mas como André Clenier, de uma mãe grega. Seu nome era José, mas fazendo-se barnabita, tinha escolhido o de Ugo, sem duvida em lembrança do nosso poeta patriota Ugo Foscolo.

Era pois de raça latina e hellenica ao mesmo tempo, as duas raças mais bellas e intelligentes do mundo. Tinha os cabellos castanhos, e naturalmente amellados, olhos brilhantes como o sol, ora serenos, ora fulgurantes, boca risonha, pescoço alvo e longo, membros ageis e robustos, coração de fogo para a gloria e para o perigo, instinctos bons e honrosos, espirito elevado, cálido, rapido, feito ao mesmo tempo para as piedosas contemplações do anachoreta e para os irresistiveis ardores do apostolado.

Seus estudos foram, não apenas um labor, mas uma conquista. Apoderou-se rapidamente da litteratura, da sciencia das artes, e como espelho de toda a sciencia, sabia de cór o poema inteiro de Dante. Seis mezes lhe foram sufficientes para aprender grego; quanto ao latim, fallava-o como a sua lingua materna, e fazia versos no genero dos de Horacio; escrevia correctamente com a penna o inglez e o francez, e quando os acontecimentos o levaram ao meio dos combates, trazia comsigo Byron e Shakspeare. O tragico inglez e o poeta que morreu em Missolonghi escutavam as patrioticas pulsações do seu coração.

Além d’isto era pintor e musico. Da mesma sorte que eu havia acreditado em Pio IX, Ugo n’elle crêra.

Pio IX succedia a Gregorio XVI, Pio IX dava a amnistia, Pio IX promettia reformas, era adorado