Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/327

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pé sobre a barricada, batia com a palma da mão no peito e gritava:

— Aqui, aqui, atirae aqui sobre a cruz da Legião de Honra!

Uma balla o feriu na cabeça.

— Mais abaixo, gritava elle, mais abaixo, maldictos!

Segunda balla lhe acertou; levaram-n’o para fóra do combate. Volveu, e depois foi morrer na Grecia.

Assisti do meu mirante a este combate. Ainda que pouco prodigo de elogios — os que me conhecem me farão justiça — julguei dever fazer delle uma descripção ao governo.

A 14 de maio, pela manhã, pelo menos assim o julgo, — escrevo sem documentos á vista e posso enganar-me nas datas — almoçámos na villa Spada, n’uma camara do terceiro andar, com Sacchi, Bueno e Corcelli; estavamos todos em mangas de camisa; eu, um pouco taciturno, porque acabava de condemnar á morte um dos nossos officiaes, um napolitano, que tomado de terror na noite passada tinha abandonado o seu posto, quando ouvimos passos apressados no corredor. Abriu-se a porta, e dou um grito: era Annita que vinha juntar-se a mim, conduzida por Orrigoni.

Os meus companheiros reconhecendo minha mulher, vestiram os uniformes e deixaram-nos.

— Sabeis em que ella se tem divertido vindo da via Corrici aqui, general? perguntou-me Orrigoni.

— Não.

— A parar ao longo de S. Pedro in Montorio para ver a bateria franceza. Olhae, vêde a poeira que nos cobre a ambos: é a que as ballas produziam batendo sobre a muralha. E quando eu lhe dizia “Vinde, senhora, vinde! é inutil fazermo-nos matar aqui!” respondia-me: “Como achaes, meu charo, que os francezes arranjam as nossas egrejas?”

Chara Annita! apertei-a contra meu coração.