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habituada ao fogo, e mesmo entre os já habituados, como vimos na noite de 10.

Pedi pois positivamente que se esperasse a manhã.

De manhã vêr-se-hia a que inimigo era mister fazer face, fosse elle á traição.

Vindo o dia, toda a minha divisão estava prompta, reforçada pelos regimentos que o general Roselli poz á minha disposição.

A companhia dos estudantes lombardos que faziam parte da legião Medici estava na vanguarda.

A propria legião Medici recebêra ordem de se juntar a nós.

Os canhões das nossas baterias voltados para os bastiões occupados, ribombavam ao mesmo tempo de São Pedro in Montorio, do bastião nº 8 e de Santo Aleixo.

Os estudantes lombardos marcharam na frente ao assalto. Ainda que fulminados pelo fogo dos francezes, precipitaram-se á bayoneta sobre a guarda principal e sobre os trabalhadores, que forçaram a concentrar-se no casino Barberini.

Os bravos mancebos estavam já no terrapleno do casino; mas eu acabava de saber com que forças tinhamos a combater. Vi que um segundo 3 de junho ia roubar-me metade d’estes homens que eu amava como filhos. Não tinha esperança alguma de affastar os francezes da sua posição; ia portanto ordenar uma carnificina inutil.

Roma estava perdida, mas era perdida depois de uma defensa esplendida e maravilhosa. A queda de Roma depois de um cerco tal era o triumpho da democracia na Europa.

Depois restava-me a idéa de que eu conservava quatro ou cinco mil defensores dedicados que me conheciam, que eu conhecia e que corresponderiam á minha primeira chamada.[1]

  1. A campanha de 1859 e a expedição da Sicilia provam que Garibaldi tinha razão.