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Dandolo exforçava-se em consolal-o o melhor que podia, fallando-lhe em Deus.

Elle o interrompeu para lhe fallar de seus filhos.

— Educa-os, lhe disse elle, no amor de Deos e da patria.

Depois accrescentou:

— Conduz a Milão o meu corpo com o de teu irmão. Causa-te pena que eu morra, meu charo amigo, disse elle; ai de mim! tambem eu choro a vida!

Chamou então para seu lado um soldado que era sua ordenança, e que bastantes vezes tinha feito enraivecer.

— Tu perdoas-me não é assim? lhe disse elle sorrindo.

Depois perguntou a Dandolo se tinha havido noticias de Morosini.

Dizia-se vagamente que elle estava prisioneiro.

Um pouco antes de morrer, Manara tirou um annel do dedo, metteu-o no de Dandolo, e disse:

— Saudarei teu irmão por ti:

E virando-se para mim:

— Ó Bertani! faz-me morrer depressa, disse elle; soffro muito!

Foi a ultima queixa que sahiu de sua boca.

Entrou em agonia, agarrou-se convulsivamente aos que o cercavam, depois recahiu no leito, com um suspiro, immovel e frio.

Puz-lhe a mão sobre o coração; battia ainda, mas lentamente: pouco a pouco as pulsações cessaram.

Sua alma está já no Ceu.

Eu disse então aos monges que nos rodeavam de me prepararem uma solução arsenical para injectar o cadaver, mas não havia arsenico. Contentei-me de fazer a injecção com sublimado corrosivo. O cadaver foi transportado para uma camara, á direita do altar mór, perto da sachristia, e ali deposto levemente, vestido do seu uniforme, e com a cabeça apoiada n’uma almofada.

Seu joven amigo Eleuterio Pagliano que durante