Ia, como eu, vêr Manara.
Um medico tambem corria para a egreja. Uma granada o prostou do cavallo; e um instante depois o cavallo ferido de egual golpe cahia sobre elle.
Eu chegava são e salvo; conduzia-me Deus!
Ao fundo da egreja, á direita, perto da balaustrada, estava um leito rodeado pelos officiaes da legião Manara.
Logo que o ferido me viu estendeu a mão para mim, e com voz fraca perguntou-me:
— É mortal?
A mocidade repellia apezar da evidencia a idéa da morte.
Vendo que eu lhe não respondia repetiu:
— Pergunto-te se a minha ferida é mortal; responde-me!
E sem esperar a resposta, prorompeu em palavras cheias de pesares e de saudades.
Animei-o tanto quanto o póde fazer um homem a quem a coragem falta; entretanto elle viu bem que eu não tinha esperança.
Muitos medicos se aproximaram d’elle, mas fazendo-lhe signal com a cabeça para se affastarem:
— Deixae-me morrer tranquillo! lhes disse elle.
Seu pulso quasi se não sentia, as extremidades estavam frias, as feições profundamente alteradas, e o sangue corria a golphadas da ferida.... soffria horrivelmente.
Seus companheiros perguntaram-me o que eu pensava do seu estado.
— Tem ainda pouco mais ou menos uma hora de vida, disse eu a Dandolo.
Então o mancebo inclinando-se ao ouvido do seu amigo:
— Pensa no Senhor! lhe disse elle.
— Oh! penso, e muito! respondeu Manara.
Depois accenou a um barbadinho para que viesse. O frade approximou-se do leito, escutou a confissão do moribundo e deu-lhe a absolvição.
O nosso pobre amigo então pediu o Viatico.