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perseguido pela inveja das outras nações, porque nasceu grande e porque tem sempre marchado á frente dos povos, guiados por ella á civilisação.

Roma! quando penso na sua desgraça, no seu abatimento, no seu martyrio, parece-me superior a todo o mundo. Amava-a com todas as forças da minha alma, não só nos combates soberbos da sua grandeza durante tres seculos; mas até nos mais pequenos successos que eu recolhia no meu coração como um precioso deposito.

O meu amor em logar de diminuir, tem augmentado com o desterro. Muitas vezes, no outro lado dos mares, a tres mil leguas de distancia, pedia ao Senhor como uma graça especial o tornar a vêl-a. Finalmente, Roma era para mim a Italia, porque eu não vejo a Italia senão na reunião dos seus membros dispersos, e Roma é para mim o symbolo da unidade italiana.

 

IV

As minhas primeiras aventuras

 

Durante algum tempo naveguei na companhia de meu pae; depois fui a Cagliari no bergantim Etna, de que era capitão José Gervino.

N’esta viagem presenciei uma horrivel catastrophe que me deixou uma eterna recordação. Vindo de Cagliari, na altura do cabo Noli, navegavamos na companhia de alguns navios, entre os quaes se achava uma encantadora falua catalã. Depois de gosarmos dois ou tres dias de um bello tempo, começámos a sentir algumas rajadas d’esse vento a que os nossos marinheiros chamam Libieno, por que antes de chegar ao Mediterraneo passa pelo deserto de Lybia. Impellido por elle o mar não tardou a enfurecer-se, e tão furiosamente que nos arrastou para Vado.