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A nossa viagem ao principio foi feliz, mas chegamos a uma linha de cachopos que nos era necessario atravessar, achámo-nos por duas vezes quasi submergidos.

Felizmente atravessamo-la sem novidade.

Mas livres dos cachopos, estavamos em perigo mais imminente.

Não encontravamos o fundo com os nossos croques, e por conseguinte era impossivel dirigir a embarcação. Alem d’isso a corrente tornando-se mais violenta, á medida que avançamos no rio, arrojava-nos para longe da galeota.

Pareceu-me chegado o momento de atravessar o Atlantico parando só em Santa Helena ou no Cabo da Boa Esperança.

Os nossos companheiros, se nos quizessem apanhar, não tinham senão o recurso de largarem as velas. Foi o que fizeram, e como o vento estava de terra a galeota bem depressa nos alcançou.

Passando junto de nós os nossos companheiros, lançaram-nos um cabo. Amarramos com elle a jangada ao navio, e depois de termos içado todos os viveres é que Mauricio e eu subimos. Em seguida içámos a meza que foi reintregada no seu logar na casa do jantar, não tardando muito a exercer as suas funcções habituaes.

Vendo o appetite com que os nossos companheiros atacaram a carne, que com tanto trabalho tinhamos alcançado, consideramo-nos sufficientemente recompensados das nossas fadigas.

Alguns dias depois comprei por trinta escudos a canoa d’um navio que cruzava n’estas paragens.

Estivemos ainda este dia á vista do pico de Jesus Maria.