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O cadaver do nosso desgraçado camarada foi deitado ao mar, com as cerimonias costumadas n’estas occasiões, por que durante muitos dias não podemos desembarcar em parte alguma.

Este genero de enterramento não era muito do meu agrado, e sentia por elle uma grande repugnancia, talvez por me julgar proximo a ter igual sorte. Confessei esta aversão a Luiz Carniglia.

No momento em que lhe fazia esta confissão vieram-me á lembrança estes versos de Foscolo:

«Uma pedra, um unico signal que difference os meus ossos d’aquelles que a morte semea todos os dias na terra e no Oceano.»

O meu pobre amigo chorava promettendo não me deixar lançar á agua. Quem sabe se apesar do seu desejo teria podido executar a sua promessa. O meu cadaver serviria então para matar a fome a algum lobo marinho, ou caiman. Não tornaria a vêr a Italia, não me teria batido por ella, que era a minha unica esperança!

Quem diria ao meu caro Luiz que antes d’um anno era eu que o veria rolando pelos cachopos, desapparecer no mar, e que procuraria debalde o seu cadaver, para cumprir a promessa que elle me havia feito, de o sepultar na terra e collocar na sua ultima morada uma cruz que o recommendasse á oração dos viandantes. Pobre Luiz! durante a minha longa e cruel enfermidade fostes tu que tivestes sempre por mim um carinho paternal.

XIII

Luiz Garniglia

 

Vou dizer algumas palavras sobre o meu pobre amigo Luiz. E porque é um simples marinheiro não lhe heide dedicar algumas linhas? Porque elle não é... Oh! posso assegural-o, a sua alma era