Página:Memórias de José Garibaldi (1907).pdf/65

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iros a repellir esta abordagem agarrei no leme que se achava sem governo por causa da morte de Florentino. Infelizmente no momento em que o agarrava para executar uma manobra uma balla atravessou-me o pescoço ferindo-me entre a orelha e a carotida, fazendo-me cahir sem conhecimento.

O resto do combate que durou uma hora, foi sustentado por Luiz Carniglia, piloto, e por Pascoal Sodola, Giovani Lamberti, Mauricio Garibaldi e dous maltezes. Os italianos fizeram prodigios de valor, mas os estrangeiros e os cinco negros fugiram para o porão. Emfim o inimigo fatigado de nossa defeza e tendo uma dezena de homens fóra de combate fugiu, em quanto que nós tendo apparecido algum vento continuámos a subir o rio.

Ainda que tivesse tornado a mim, fiquei completamente inerte e inutil durante o resto do combate.

Confesso, as primeiras impressões que senti abrindo os olhos, foram deliciosas. Podia dizer que havia sido morto e que tinha resuscitado, tanto o meu desmaio foi profundo. Entretanto esse sentimento de bem estar foi bem depressa abafado pelo conhecimento da situação em que nos achavamos. Ferido mortalmente, não tendo a bordo quem possuisse o menor conhecimento geographico, mandei buscar a carta, e com muita difficuldade pois, me achava com a vista coberta com um véo que me parecia o da morte, indiquei com o dedo Santa Fé no Rio Parana. Só Mauricio é que uma unica vez tinha feito uma viagem ao rio da Prata; para todos nós eram pois completamente estranhas aquellas paragens. Os marinheiros aterrados — os italianos, devo dizel-o, não partilhavam estes sentimentos ou pelo menos sabiam occultal-os — e receiando serem presos e considerados como piratas, desertaram na primeira occasião que se lhe apresentou. Em quanto esperavam por este momento, em cada barco, em cada canoa, em cada tronco d’arvore fluctuante viam um navio inimigo enviado em sua perseguição.