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A minha proposta foi adoptada, e fui encarregado de lhe dar execução.

Pensando então maduramente n’este projecto fiz-lhe as seguintes modificações.

Mandei construir por um habil carpinteiro chamado Abreu oito enormes rodas de uma solidez a toda a prova para poderem sustentar o extraordinario peso que devia supportar.

N’uma das extremidades do lago — a que é opposta ao Rio Grande do Sul — isto é, ao noroeste, existe no fundo de um barranco um pequeno ribeiro que corre do lago dos Patos ao lago Tramandai, ao qual tratavamos de transportar os dous lanchões.

Fiz descer a este barranco um dos nossos carros, depois levantámos o lanchão até que aquelle estivesse em cima do carro. Cem bois mansos foram atrelados, e vi então com grande satisfação o maior dos nossos lanchões caminhar como se fosse uma penna.

O segundo carro desceu por sua vez, e como no primeiro obtivemos um exito feliz.

Os habitantes gosaram então d’um espectaculo curioso e desusado, isto é, verem dois navios em cima de duas carretas, e puxados por duzentos bois, atravessarem cincoenta e quatro milhas, isto é, dezoito leguas, sem a menor difficuldade, sem o mais pequeno incidente.

Chegados á margem do lago Tramandai os lanchões foram deitados ao mar do mesmo modo porque tinham sido embarcados. Necessitavam de alguns pequenos reparos, que no fim de tres dias estavam concluidos.

O lago Tramandai é formado por aguas que tem a sua fonte nos montes d’Epinasso, e finalisa-o no Atlantico. É pouco fundo, pois nas maiores enchentes só tem quatro ou cinco pés d’agua. N’esta parte da costa reinam sempre grandes tempestades.

O estrondo que o mar faz batendo n’estes rochedos,