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Ainda um martyr da liberdade italiana que não teve um tumulo, uma cruz!

Os cadaveres dos dezeseis afogados que nós contamos n’este desastre, fieis companheiros das minhas aventuras, foram arremeçados pelas vagas a mais de trinta milhas de distancia para o norte. Procurei então entre os quatorze que haviam escapado e que n’este momento estavam na praia, um rosto amigo, uma figura italiana.

Nenhuma!

Os seis italianos que me acompanhavam estavam mortos. Carniglia, Mutru, Staderini, Nadonne e Giovanni... Não me recordo do nome do sexto.

Peço perdão á patria por o haver esquecido, bem sei que escrevo estas memorias doze annos depois d’estes successos terem logar, bem sei que muitos acontecimentos tão terriveis como o que acabo de descrever, tem tido logar na minha vida; bem sei que vi cair uma nação, e que tentei defender uma cidade; bem sei que perseguido, exilado, e tratado como um animal feroz, depuz no tumulo a mulher a quem amava mais que a propria vida, bem sei que depois de fechado o seu tumulo fui obrigado a fugir como os condemnados de Dante; bem sei que não tenho um asylo, e que do extremo d’Africa onde me acho, olho para essa Europa que me repelle como um bandido, apesar de não ter tido até hoje senão um pensamento, um amor — a patria; sei tudo isto, mas não obstante devia-me lembrar d’esse nome.

E comtudo não o sei!!

Tanger, março de 1857. —