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BOOKER T. WASHINGTON

uma irmã, tambem meia. Naquelle tempo ninguem prestava attenção á historia genealogica e aos annaes duma familia de pretos. Um comprador, segundo creio, achou conveniente adquirir minha mãe e se tornou proprietario della e meu — negocio approximadamente igual á compra dum cavallo ou duma vacca. De meu pae sei menos, desconheço até o nome delle. Contaram-me que era branco e residia numa fazenda vizinha, mas nunca ouvi dizer que se tivesse interessado por mim, que se houvesse de qualquer fórma occupado com a minha educação. Não o accuso por isso: era mais uma victima da instituição que o povo americano desgraçadamente introduziu no seu organismo social.

Minha mãe era a cozinheira da fazenda, e a nossa cabana servia de cozinha. De janellas nem signal; apenas aberturas que davam passagem á luz e ao vento glacial do inverno. Havia tambem uma porta, ou qualquer coisa com este nome, mas era pequena, e os gonzos desarranjados, as grandes fendas que a rasgavam, faziam que a gente vivesse muito mal. Num canto, á direita, existia no muro o buraco dos gatos, rombo quadrado commum nas habitações da Virginia antes da guerra. Tinha de sete a oito pollegadas, e por elle o gato entrava e sahia durante a noite. Isso ali era perfeitamente dispensavel, pois havia nas paredes pelo menos meia